A árvore da vida

A árvore da vida

Extrato de um artigo do Fred Hageneder em “Die andere Realität” (A outra realidade), Munique, Janeiro de 2001

 

Porque no mundo inteiro, as árvores são ligadas tão intimamente com ensinamentos espirituais e o desenvolvimento do homem? O que os sábios do mundo antigo viram na árvore, para que ela ocupasse uma posição tão central na sua concepção do mundo? A arqueologia e a mitologia nos deram muitas indicações para responder estas questões e a soma dos documentos mostra uma imagem uniforme, internacional e trans-religiosa.

Nos ensinamentos esotéricos, a árvore, primeiramente, é um símbolo perfeito para a vida em si: a árvore da vida. Ao mesmo tempo, ela representa a plenitude do universo, pois afinal de contas tudo que existe é cheio de espírito: a árvore do mundo. Seu tronco é enraizado na mãe Terra, sua poderosa copa carrega a diversidade dos seres da criação. Por dentro da sua semente há todas as espécies de plantas e animais. No antigo Egito, na Mesopotâmia e na Grécia, as estrelas também eram consideradas seus frutos. A árvore da vida dá alimento e curativo para todos os seres. Ela é imortal e também dá imortalidade às almas dos homens, ou através das suas frutas (são elas que o grego Hérakles rouba dos Hespérides e são elas que Iduna, a deusa germana da primavera doa ao Asos), ou através do seu suco (Hamoa na Pérsia antiga, Soma na Índia e na região celta germana a calda do caldeirão sagrado), que também oferece onisciência e iluminação. Há cerca de 2600 anos que Zaratustra, o sumo sacerdote persa falou: “Para a alma, ela é o caminho para o paraíso”.

A árvore da vida ou do mundo, amplamente ramificado, é a estrutura espiritual do cosmo. Percebemos a sua estrutura física com nossos telescópios ou microscópios em forma de bola e movimentos em círculos. Especialmente a Cabala judaica e o Vedos da Índia antiga, enfatizam a natureza espiritual da árvore do mundo: Em ambas as tradições, a árvore do mundo cresce de cima (mundo espiritual) para baixo (mundo de manifestações materiais).

O arquétipo da árvore também se revela na matéria, não apenas na vegetação, mas também, por exemplo, na geografia dos estuários de rios ou no crescimento do sistema nervoso ou da circulação sanguínea de animais. Especialmente no cérebro humano, estas redes parecem a copa de uma árvore, com a coluna como tronco – o que já tinha (e tem) importância nas escrituras antigas do Egito e ainda mais no ensino da Yoga (Kundalini).

Na maioria dos mitos, a árvore da vida está vigiada por um dragão ou uma serpente, que simbolizam o espírito da terra ( a terra “pastoreia” a dádiva da vida). Além disso, a serpente maleável é uma imagem do energético sumo mercuriano que percorre a árvore.

As tradições islâmicos, judaicos e cristãs também conhecem o jardim paradisíaco com a árvore da vida no centro – um arquétipo, que pode ser rastreado ao mito mesopotâmio do jardim Éden. A serpente também é conhecida nestas tradições, mas apenas na interpretação da igreja cristã, a história do primeiro casal humano tem ligação com culpa e pecado.

Mas de fato aqui, como também nos povos indígenas do Havaí, a árvore da vida e a arvore do conhecimento eram a mesma. A árvore da vida dá alimento para todos os seres, o que inclui também alimento espiritual. A árvore do conhecimento (“do bem e do mal” na terminologia cristã) é apenas mais um aspecto da árvore da vida. Como a árvore do mundo é tudo, uma união (pelo menos parcialmente) mística com ela, também traz conhecimento. Assim, xamãs siberianos procuram a árvore da vida para subir através dela para o mundo espiritual. Assim, Odin levou para o seu povo as runas da árvore. Assim, a formação de druidas aconteceu na floresta. Assim, Buda procurou a árvore para a iluminação. Assim, pessoas no mundo todo rezam perto de árvores.

Os antigos padres também sabiam disso. Ainda no século III, o bispo de Roma publicamente louvou a árvore do mundo como base do espaço, ponto de descanso de todas as coisas, base do círculo mundial e eixo cósmico”. Já um século depois iniciou-se a destruição sistemática dos bosques sagrados pela igreja romana. A “árvore da iluminação” budista, a “árvore da vida” judaica – se tornou no cristianismo a abominada “árvore da tentação”. E nos dezeseis séculos seguintes, isso se tornou a opinião predominante do ocidente sobre a natureza em geral. No início do Século XXI, a irreverencia da vida culminou numa ciência e uma política, que visa substituir a árvore da vida completamente por uma nova, criada unicamente pelo homem, por engenharia genética.

 

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